- O Caos Cultural
"Inferno Verde": Tortura e Morte no Coração da Selva

Imagine uma colônia penal criada no extremo norte do país, em meio a floresta amazônica, e com o propósito único de prender agitadores políticos de movimentos “subversivos”. Está foi a Colônia Penal de Clevelândia do Norte, também conhecida como Inferno Verde, localizada no Oiapoque, no Amapá, durante os anos 20.
Situada na fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa, foi pensada como um núcleo colonial, na perspectiva da ocupação do território, ao norte do Amapá, que até então era território integrado ao Estado do Pará. Inaugurada em 5 de 1922, fora batizada em homenagem ao presidente americano Grover Cleveland, sendo um reflexos da conjuntura política nacional e internacional de repressão ao anarquismo e ao comunismo.

O governo da época, de Arthur Bernardes, vivia em estado de sítio. Centenas de presos amontoavam-se em navios aportados, em espécie de cárcere provisório. O Inferno Verde, então, surgiu como alternativa perfeita. Isolar os presos políticos em mata virgem tornou-se a melhor hipótese, uma vez que nenhum Estado aceitava o recebimento dos ditos “subversivos”.
Foi em 1924 que os primeiros navios lotados chegaram a Clevelândia, sendo a maioria presos anarquistas, tenentes rebelados, e todo tipo de pessoa que fosse considerada perturbador da ordem. Estes foram submetidos a duras condições de sobrevivência, torturas, violências policiais, trabalhos forçados e fome. Ou seja, o Inferno Verde era, na prática, um enorme campo de concentração no coração da mata.
Domingos Passos, Biófilo Panclasta, Antônio Alves da Costa, Antônio Salgado da Cunha, Nicolal Parado, Domingos Brás, Nino Martins e outros nomes de importantes líderes anarco-sindicais foram enviados para o "Inferno Verde".
De acordo com publicações estrangeiras, mais de duzentos presos conseguiram fugir de Clevelândia, sendo o primeiro deles, segundo Alexandre Samis, no livro 'Clevelêndia: anarquismo, sindicalismo e repressão política no Brasil', o pintor e decorador Pedro Aleves Carneiro, em 17 de fevereiro de 1925, rumo a Belém. As fugas se faziam pela Guiana e, especialmente, por Saint George.

Capa do jornal comunista "A Nação"
Com o fim do governo Arthur Bernardes, a repressão e a censura diminuíram, aumentando as denúncias de deportação.
O Inferno Verde funcionou durante 2 anos, até 1926, e suas informações oficiais nunca foram divulgadas pelo exército. Acredita-se que a taxa de óbito dos presidiários era de 80%, e os reflexos de sua existência deixaram grandes marcas profundas nos movimentos anarquista, comunista e tenentista da década de 20. Alguns consideram a existência da Colônia Penal de Clevelândia do Norte um dos principais fatores de desestruturação desespero movimentos.
Referência:
“Inferno Verde" de Clevelândia do Norte e a repressão política na Primeira República, artigo de Carlo Romani
http://revistas.pucsp.br/index.php/verve/article/viewFile/4965/3513
Clevelândia, o Inferno Verde, por Carol Assis.
http://www.overmundo.com.br/overblog/clevelandia-o-inferno-verde