
Em 1933, o poeta, escritor, ensaísta e um dos principais nomes do modernismo brasileiro, Oswald de Andrade, escrevia sua peça “O Rei da Vela”, obra esta que só seria publicada em 1937.
A farsa contada em 3 atos fala sobre um agiota, Abelerdo, sua relação com os clientes, família e o sistema econômico capitalista do ponto de vista brasileiro.
O plano de fundo do espetáculo é a crise de 1930, após a quebra da bolsa de Nova York, em 1929. No Brasil.a produção cafeeira em São Paulo recua por conta da problemática, tornando o cíclo industrial mais lento.
Os personagens de O Rei da Vela são caricaturas da tradição, da família e da propriedade, simbolos conservadores, pintando aspectos do mau caratísmo, da ganância, do sexo e do poder com uma alta dosagem de humor.

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA FOTOGRAFADO EM 2010
“Oswald nos deu no ‘O Rei da Vela’ a ‘fôrma’ de tentar apreender através de sua consciência revolucionária uma realidade que era e é o oposto de todas as revoluções. O ‘Rei da Vela’ ficou sendo uma revolução de forma e conteúdo para exprimir uma não revolução.”
José Celso Martinez Corrêa No textoo em 1967
Apesar de ser tido como uma das obras mais importantes do escritor, o espetáculo só foi encenado 30 anos depois, em 1967, pelo diretor Celso Martinez Côrrea, uma vez que esta havia sido considerada inviável por motivos políticos e morais, tendo sido o primeiro espetáculo teatral brasileiro a expor um nú.
Sua apresentação, poucos anos antes do decreto ditatorial do AI-5, tem importância crucial na revolução artística brasileira. Nas palavras do crítico teatral Valmir Santos, em entrevista ao Nexo Jornal:
"1967 e 1968 são anos de recrudescimento da censura, pré-decretação do AI-5. O teatro fez importante contraponto à ditadura civil-militar, vide a luta por liberdade de expressão em episódios como a invasão do espetáculo ‘Roda viva’, texto de Chico Buarque e direção de Zé Celso, que teve os camarins invadidos por membros da organização paramilitar Comando de Caça aos Comunistas (o CCC), armados de cassetetes, revólveres, facas e socos-ingleses, em meados de 1968, no Teatro Galpão, anexo ao Teatro Ruth Escobar.”
A entrevista completa sobre a importância da peça de Oswald de Andrade pode ser lida AQUI.
Para ler a obra, na integra, clique AQUI.
RESSURECTIONE
POR LUIZ PIEROTTI
Em meio à festa, à dança. à diversão: o tempo passa.
Em meio ao trabalho, o relatório, o feedback: o tempo passa.
Durante o domingo, durante o sexo, durante a partida de futebol e a risada pós piada, cada segundo passa, escorrendo pelo rastro de tantos outros segundos perdidos, de tantas outras ideias esquecidas, de tantos outros desejos abandonados.
Se uma ideia não realizada é uma ideia inexistente, então também cada palavra não proclamada é um pensamento inexistente. Cada plano abandonado uma rendição prévia. E a cada tópico anteriormente citado, uma inexistência de parte do que nos constitui.
Totentanz é a recordação do tempo constante, é a observação do tudo no agora.
É a busca, mesmo que sempre busca, da observação do caos em sua plenitude.
O Manifesto não busca a individualidade, nem a remediação do singular.
Pretende a busca da identificação exterior do sujeito de Rimbaud. O continente humano de John Donne. A celebração de Whitman. A razão de Hamlet. O tempo: Chronos e Kairós.