- O Caos Cultural
Arthur Rimbaud: Je est un Autre

Cidade (tradução)
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que se supõe moderna porque todo gosto conhecido foi subtraído tanto dos mobiliários e do exterior das casas quanto do traçado da cidade. Aqui não poderíeis assinalar os vestígios de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas à sua mais simples expressão, enfim! Estes milhões de pessoas que não têm necessidade de se conhecer sobrelevam de maneira tão semelhante a educação, a profissão e a velhice, que a duração da vida deve ser varias vezes menos longa daquela que uma estatística insana encontra para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo espectros novos circulando através da espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — Erínias novas, diante da choupana que é minha pátria e todo meu coração, pois tudo aqui se assemelha a isto, — a Morte sem prantos, nossa ativa filha e serva, um Amor desesperado, e um belo Crime choramingando na lama da rua.
Ville (original)
Je suis un éphémère et point trop mécontent citoyen d'une métropole crue moderne parce que tout goût connu a été éludé dans les ameublements et l'extérieur des maisons aussi bien que dans le plan de la ville. Ici vous ne signaleriez les traces d'aucun monument de superstition. La morale et la langue sont réduites à leur plus simple expression, enfin ! Ces millions de gens qui n'ont pas besoin de se connaître amènent si pareillement l'éducation, le métier et la vieillesse, que ce cours de vie doit être plusieurs fois moins long que ce qu'une statistique folle trouve pour les peuples du continent. Aussi comme, de ma fenêtre, je vois des spectres nouveaux roulant à travers l'épaisse et éternelle fumée de charbon, - notre ombre des bois, notre nuit d'été ! - des Erinnyes nouvelles, devant mon cottage qui est ma patrie et tout mon cœur puisque tout ici ressemble à ceci, - la Mort sans pleurs, notre active fille et servante, et un Amour désespéré, et un joli Crime piaulant dans la boue de la rue.
Arthur Rimbaud, 1875
Jean-Nicolas Arthur Rimbaud (Charleville, 20 de outubro de 1854 — Marselha, 10 de novembro de 1891) foi um poeta simbolista francês. Produziu suas obras mais famosas quando ainda era adolescente, tendo aos 15 anos já alguns prêmios e até composições em latim, sendo descrito por Paul James, à época, como "um jovem Shakespeare", era um estudante brilhante, apesar de inquieto.

Rimbaud caricaturado por Paul Verlaine
Como parte do movimento decadente, Rimbaud influenciou a literatura, a música e a arte modernas. Era conhecido por sua fama de libertino e por uma alma inquieta, viajando de forma intensiva por três continentes antes de morrer de câncer aos 37 anos de idade.
Arthur Rimbaud fora influenciado por artistas como Victor Hugo, Charles Baudelaire, Paul Verlaine e Walt Whitman, e influenciou, por sua vez, alguns nomes importantes como Pablo Picasso, Allen Ginsberg, Nabokov, Henry Miller, Bob Dyçan e Patti Smith.

Esquina de mesa por Henri Fantin Latour
Sentados, da esquerda para a direita: Paul Verlaine, Arthur Rimbaud, Léon Valade, Ernest d'Hervilly, e Camille Pelletan.
De pé, da esquerda para a direita: Elzéar B. Elzéar, Émile Blémont e Jean Aicard
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