- Luiz Pierotti
Estás na Idade da Razão
Há uma constante na vida de todo homem, algo inerente à sua condição de ente racional: a obrigação da escolha. Onde morar, com quem se relacionar, que profissão seguir, para onde viajar, que alimento cozinhar... As escolhas são reflexos de todas as ações humanas, da mais ínfima à mais importante, motivadas por uma característica ainda mais impregnada na condição do homem: a liberdade.
Somos, antes de tudo, seres condenados à liberdade, proposição aparentemente equivocada devido ao desejo naturalizado da relação livre com o mundo, porém para cada ação devemos atribuir motivações externas que sirvam de critério para nossas escolhas, e aí o que parece libertador torna-se opressor.
“Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de seus atos; mas sou também um existente cuja existência individual e única temporaliza-se como liberdade [...] Assim, minha liberdade está perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade sobreposta ou uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente a textura de meu ser... (SARTRE, 1998, p. 542/543).”

Sartre, em sua filosofia de “o Ser e o Nada” atribui a angustia existencial à aceitação de si como responsável pelas suas ações e, consequentemente, por seus motivadores, podendo negar aspectos morais pré-determinados ou ignorar satisfações pessoais. Creditar o sofrimento da escolha a si mesmo é sentir o peso da liberdade.
“Mas e esses motivadores morais, não exerceriam papel importante dentro da liberdade e, portanto, em suas escolhas?”
De acordo com a filosofia sartreana, não há valores genéricos que orientem os homens, compete a este criar, com ações concretas, seus valores. Ou seja, a própria atribuição de valor se dá pela ação deste, refletindo em suas futuras escolhas.
Toda escolha é fruto de uma liberdade intrínseca a si, tendo como seu agente o responsável pelo seu resultado e reverberações sociais. Não há possibilidade de ignorar as decisões, se manter alheio é exercer sua liberdade de se fingir impotente.
"Você renunciou a tudo para ser livre. Dê mais um passo, renuncie à própria liberdade. E tudo será devolvido."
A idade da Razão, Sartre
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