- Luiz Pierotti
O Muro (Jean-Paul Sartre)

Quantos significados o vocábulo “muro” pode assimilar? Um paredão de fuzilamento? Uma construção famosa? Um barreira social? Sartre se apropria de todas para refletir a complexidade do homem sobre um mundo em erupção.
Publicado em 1939, O Muro é um apanhado de cinco narrativas que fogem ao individualismo pré-guerra e abordam temas como o racismo, o preconceito sexual e os valores burgueses.

Incisivo, Jean-Paul Sartre se rebela contra a visão imposta pela sociedade da época, nos convidando a compreender o homem e o mundo de uma maneira profunda, crítica e melancolicamente libertadora.
"Tom saiu escoltado por dois soldados. Dois outros iam atrás levando o garoto pelos braços e pelas pernas. Ele não tinha desmaiado, seus olhos estavam arregalados e lágrimas deslizavam-lhe pelas faces. Quando eu quis sair o tenente me impediu:
- Ibbieta é você?
- Sim.
- Espere aqui, daqui a pouco virão buscá-lo.
Saíram. O belga e os dois carcereiros saíram também. Fiquei sozinho. Não compreendia o que estava acontecendo, mas preferia que tivessem acabado logo com tudo. Ouvia as salvas a intervalos quase regulares: a cada uma delas eu estremecia. Tinha vontade de urrar e de arrancar os cabelos. Mas cerrava os dentes e afundava as mãos no bolso porque queria continuar firme."
Trecho de O Muro, Jean-Paul Sartre, 1939

Indicação de Luiz Pierotti, Co-Autor do Caos Cultural.